quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Menor poema

Pernambuco, o que digo que já não disseste
no ribombo da alfaia, em voz republicana?
Teu céu? Talhado à faca de incontáveis preces
por teus filhos de barro, pranto, honra e cana?

Tua noite? Seguida pelo Caçador
(uns dirão, pra matá-la, e outros, por amor)?
Tua manhã? Degredo de estrela e fanal?
O nó cego no peito ao se ouvir o "imortal"?

Inevitável, já, deixar que tu me invadas
como o sabor e o beijo e as novas palavras...
Desnecessário, já, dizer que tu venceste.

Não me cabe medir na arte as tuas plagas.
Impossível meter num verso as tuas águas
aquentadas, saladas: entes do ser Leste.

domingo, 20 de dezembro de 2009

"Porque pulsa do amor a dura prova..."

Para Elis

Porque pulsa do amor a dura prova
vai pungir no poema a pena firme.
pra seguir com o rio que renova
e de novo, entre as águas, o afirme!

Se livres somos nós e eu quero tudo
quanto pode um ser errante... mas
se escrevo um verso esparso e mudo
é só para entregar-te pleno. Mas

se rompe em chuva fria o desconcerto
de Camões e de toda humanidade,
sem saudades da vida venho certo

da letra desenhando eternidade
no céu rubro, do Verbo concertado.
Tê-la, então, no presente, do meu lado.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Marc Chagall

Uma noite russa caiu sobre o violino,
de súbito
estavam íntimos cegos e noivos.
Apenas ele seguiu vermelho,
sem doer um só verso,
amou.

Pendia da lua o violinista:
– pareceu-lhe mágico e mudo como um salto de bailarina.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009