terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ouro Preto

▒▒▒De alguma forma, a minha imagem de Ouro Preto nunca foi a metafísica. Meu primeiro contato com a cidade foi na escola, com a chegada de um amigo que nasceu por lá, e foi ele quem me apresentou tudo isso. Recordo que a principal coisa que trazia de Ouro Preto era a história de um desencontro amoroso, um delicado nó feminino, que seria desatado mais tarde; aconteceu mais ou menos quando li Manuel Bandeira pela primeira vez, o que me despertou para o sofrimento do amor ao mesmo tempo em que meu amigo a esquecia. Depois, quer dizer, se não fosse o colégio e aquelas aulas maçantes que matávamos, creio que nem ele a teria esquecido, nem eu teria ficado sem conhecer o declínio de Vila Rica. Mas esse desconhecimento foi importante para conservar, por mais tempo, a imagem que eu guardava dela.
▒▒▒Não tenho dúvidas de que a lua é uma em cada parte. Na praia do sono é algo como o bairro de amaralina, ou uma personagem de contos de areia. Nas grandes cidades é uma extensão obscura dos postes de luz, encardida até nos bairros mais nobres. Sem contar a lua da estrada, que nos concede a sensação de estarmos realmente viajando e vivendo como se deve viver. São diversas, muitas luas. Em Ouro Preto fui descobrir porque ela também se liga intimamente à mulher e ao amor.
▒▒▒Ave, Maria, luar... foi pelo amor que eu conheci a história de Vila Rica, antes de conhecê-la. Mesmo quando lia um empoeirado volume da biblioteca municipal, contando a história de Antônio Dias, do sangue que vazava pelo arraial do Padre, do sonho foiçado de muitos pretos e muitos capitães do mato, eu não conseguia mais me desfazer daquela primeira ideia. Ainda só imaginava a cidade à noite, sem lua, com uma espessa bruma, e isso me desamparava, mas foi até descobrir a lira de Dirceu. O que muita gente ignora é que a maior parte das igrejas só foram construídas depois de 1750, ou seja, quando chegaram a decadência e o iluminismo. Não é à toa que Jaime Cortesão espalhava que o Aleijadinho, contemporâneo dos conspiradores, foi o maior de todos os revolucionários, pois declarou através da arte, a independência do Brasil.

▒▒▒Apenas me sentar, então, movendo
▒▒▒▒▒▒os olhos por aquela
▒▒▒vistosa parte, que ficar fronteira,
▒▒▒apontando direi: – Ali falamos,
▒▒▒▒▒▒ali, ó minha bela,
▒▒▒▒▒▒te vi a vez primeira.

▒▒▒Cantou Dirceu. Hoje reconheço que esses poemas, sem que eu soubesse, interdiram a entrada do inferno, dos profetas e dos pecados neste meu imaginário sobre Ouro Preto, que ora tento delinear. Todos que visitam a cidade sentem uma sensação comum: o cansaço. Ladeiras e mais ladeiras, com seus paralelepípedos – telhas de um tempo enxugado de dor , suas quinas, esquinas, trevos, tortuosas ruelas, tudo parecendo repetir a dura lição de que para toda descida haverá uma subida de pedras; esse cansaço, bem, talvez seja o que me recordasse constantemente da névoa metafísica, mas, apesar disso, não me impediu de continuar deslumbrado pela lua. Ave, Maria, luar... mesmo nunca tendo visto, é fácil imaginar uma procissão ali, até porque, em algumas noites você parece vê-las realmente. Ano passado viajei para Ouro Preto, numa viagem que eu chamaria 'quase uma lua de mel.
▒▒▒De todas as igrejas, pinturas, objetos, pouca coisa me impressionou tanto quanto um pequeno Cristo flagelado que fica no museu da inconfidência. Dizem ser uma escultura do Aleijadinho. Há um sofrimento tão vivo, que me fez pensar imediatamente no príncipe Michkin, na antiga Cafarnaum, nos versos me conta por que mistério/ o amor se banha na morte de Drummond na "morte das casas de Ouro Preto"; profundamente comovido, saí em direção à praça e sentei-me: poucos minutos depois estaria beijando minha namorada. De todas as escadarias daquela cidade, nenhuma delas deixou de nos convidar para um passeio de mãos dadas, nem mesmo sob a noite, nem sob a lua. Só com um imaginário amoroso sobre a cidade é que pude descobrir o que diz aquele Cristo flagelado, num cubo de vidro, dentro daquele museu. Que sempre estará ali, zelando a memória de cada alma torturada, negro açoitado, de cada injúria contra a liberdade. Mas vivendo num museu, o pequeno Cristo também olha-nos-olhos e clama para que inventemos um novo sentido para Ouro Preto, e foi por isso que fui para a praça e a beijei muitas vezes.
▒▒▒Sair em lua de mel para lá é ainda melhor se você levar alguns livros certeiros. Drummond, Murilo Mendes, Manuel Bandeira, e até mesmo Guimarães Rosa. Para aqueles que, além da cidade, também forem buscar a outra lua de que andei falando, podem levar Hugo, Verlaine, ou aquele famoso Virgílio de Per amica silentia lunae. Se andarem com calma, num dia claro, e de mãos dadas, mesmo que estejam sozinhos, é possível atrair surpresas. Assim como é possível notar a procissão quando noite, de dia é possível observar Murilo sentado num café com as pernas cruzadas, ou Carlos às voltas com a Igreja do Rosário, desfiando sua máquina do mundo. Sem querer, podem dar até com um Manuel Bandeira onésimamente feliz, espiando as moçoilas da calçada. Subir a rua direita sem tomar uma cachaça, passar batido pela casa de Guignard, não dar preferência à uma janela panorâmica, eis os verdadeiros pecados que ora não devem ser cometidos em Ouro Preto. Ave, Maria, amor...



▒▒▒Mas a lição apreendida que me fez sentir, ali mesmo, a intimidade entre as mulheres e a lua, veio do barroco. Quando anoitece em Ouro Preto, logo aquelas ladeiras se iluminam de luzes incandescentes, a maioria das regiões ficam escuras, e com as igrejas fechadas, todas as ruas agora parecem conduzir à praça Tiradentes. Se você não estiver numa rua com movimento, possivelmente entrevirá a dita procissão, mas se estiver na praça, sob a lua, com a sua amada, possivelmente assistirá um belo sorriso feminino. A explicação desconheço; mas penso, estando no alto da cidade, e tendo acima de si, não Deus, mas a lua (sem névoas para ela), como se hipnotizasse a semântica, a mulher torna o luar adjetivo, e veste-se dele como a um véu, assim como um poema veste-se de um soneto. Mas por que? Estão investidas de amor, prontas para amar. Disso elas já sabiam muito antes de todo calvário, de todo remorso, e do pequeno Cristo. A cidade é feita para amar. Sentem-se em casa na noite, no alto, e perto da maravilhosa luz, prateada; que no entanto é um véu e que não se deixa tirar. A lua e as mulheres, como um beijo no escuro, acabam sem nos deixar ver... onde uma começa e a outra acaba.

Vem a Verônica
Decapitar
– Mas por amor –
O chefe do ar,
Vem a Verônica
Luar, luar
.

▒▒▒Disse Murilo Mendes em "Contemplação de Ouro Preto". A pista é dele.
▒▒▒As fotos são de Luciana Goiana, a quem dedico esse poema de amor.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Lançamento

A Repartição da Flor convida os seus leitores e as suas leitoras para o lançamento de dois livros na próxima sexta-feira. "Contrabismo" do poeta Jimmy Charles Mendes e "Memórias: o imenso esquecimento" de Diego Braga. Às 17 horas do dia 05/11 na Livraria Arlequim, Praça XV, Loja L do Paço Imperial. Logo abaixo vocês encontram um poema desse tão querido e singular companheiro, que é o Jimmy. Tendo sido apresentado pelo blog numa postagem do ínicio de 2010 (12 de janeiro), agora nós também podemos contar com o belo prefácio de João Pedro de Sá, ou seja, o reparticente Teófilo de Flamboyant.



Serenata morta


Deve ser o cantar do medo
que me trouxe aqui.
Em teus braços tortos,
meigos, que tolice!
E pensar que seria você
a musa polida ao eterno.
Que pudesse sonhar e sonhar
o cortejo das coisas efêmeras
e só.
Como se cantassem pássaros por
fetiches ávidos.
Como se houvesse o mar
realinhando os acordes
do tempo.
Sereno desabrochar de pedras
nessa vontade fértil de morrer
em mim.
Teus braços sentenciam
minha ternura insana.
E chamarei teu nome como prova
de que meus desejos dormentes
apenas se calam.
Bastando cantar aquela sombra
mais perfeita que beija as mãos
frias de meus úmidos lamentos.

(Jimmy Charles Mendes)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Prefácio para "Contrabismo"

▒▒▒Será o acaso a desembocadura de esperanças dos homens flagelados pelo medo? Isso depende. No contraditório mundo de nossa era, o talvez mais universal dos sentimentos seja exatamente esse medo, nosso pai, nosso companheiro, de que Drummond falava.
▒▒▒Mas se medo todos temos, da morte e da vida severa, há também a teimosia como contraponto. A teimosia sertaneja, que é a força. É preciso encontrar a saída e o acaso para os teimosos não basta. Os teimosos, mesmo com medo, criam. Do abismo ao seu contrário (uma colina, imaginamos, verde e iluminada) a poesia é uma cisma.
▒▒▒Cisma é, entenda-se, a um só tempo, ruptura e persistência. As cismas cansam, mas justamente porque são a insistência de um ideal na realidade.
▒▒▒O poeta Jimmy Charles Mendes é um fingidor, à regra portuguesa, mas é também um cismador, conforme a cisma poética brasileira.
▒▒▒Esta é sua primeira publicação não dividida com outros autores: Contrabismo. Trata-se de uma coletânea dos primeiros versos escritos por Mendes. A idéia de publicar os poemas de noviço terá sido, imagino, influenciada pelo exemplo de Daniel Gil, outro poeta estudante na Faculdade de Letras da UFRJ que há meses atrás publicou Poesia Adolescente. O conjunto da coletânea é heterogêneo, coisa que é quase regra nessas obras de confissão de inícios. Contudo, já figuram e fulguram poemas que demonstram a dignidade constelar da coleção.
▒▒▒É desafiante, se não for errado, dizer de um poeta tão jovem qual a sua verdadeira face. Tanto porque a verdade não cabe numa amostra, quanto porque a face do artista raramente é uma só. Mas tentarei esboçar uma breve leitura dessa dose, desse bocejo.
▒▒▒Na expressão mais física, encontramos um gosto por jogos de verbar substantivos e adjetivar verbos: “Fiz-me renovo”, entre outras oportunidades. Em seu tom, a sua vontade de dizer parece sempre ser maior que a duração dos versos e mais alta que a voz das palavras e o poeta faz questão de dizê-lo: “Enquanto poeta sou vida”.
▒▒▒A poesia de Mendes é, isto podemos dizer, um exercício de esbanjamento de lirismo e de muita pessoalidade. Nota interessante é como ele se preocupa em explicar, por exemplo, a palavra gasta pelo uso rotineiro, não para dar legendas a um possível leitor, mas para reinaugurá-la mesmo na sua própria poesia. Talvez assim possa fazê-lo na vida, quem saberá?
▒▒▒Mendes inunda os termos cansados com um conteúdo maior que o continente: “Ah, despedidas.../são suaves passaportes para/uma outra dimensão/que se diz saudade” e “a fome de um suculento e saboroso/ prato chamado vida”.
▒▒▒O grande, os espaçoso, o eterno, o universal estão presente em boa parte dos poemas. Assim como o próprio tema da poesia e, aí reside a santa persistência de sua escrita: a poesia como ferramenta para vida.
▒▒▒Que me seja permitido dizer que estamos diante de um poeta proletário e que me seja permitido lavar tal título. Não falo de um realista em poesia, pois nosso poeta não o é. Nem tão pouco de alguém que afine os versos com o diapasão da propaganda política. Façamos justiça e salvemos Brecht, Maiakovski e todos que fizeram beleza na arte com verdadeira fidelidade a suas inquietações mais profundas. Mas, ou melhor conjunção que aquela: E reneguemos a vileza do estalinismo que criminalizou a individualidade e liberdade líricas.
▒▒▒Se digo que estamos diante de um poeta proletário é precisamente porque estamos diante de versos de incontinência e de desejo de transpor a realidade em sonho, construindo o real com o sonhado – “Liberdades constroem o rosto” – o dom humano por excelência e que a desumanidade da vida em classes pôs e põe em risco mortal. A poética mais sonhadora será a mais humana se o coração clamar por transformação: “Homens-relógio redescobrem/ o mundo” ou “E assim me torno ausente/no meu avesso que nasce em mim”. Não é à toa, portanto, que o título deste livro tem por alvo os – cansados e sonhadores.
▒▒▒Para não me alongar e dar logo início à viagem individual do leitor, é preciso dizer que ler Jimmy Charles Mendes, em que pese a já citada heterogeneidade deste primeiro livro, dá-nos, ou dá-me, a comparação com tomar um vinho frutado. Jamais será com tomar uma cachaça, nem a cerveja que é pelo autor homenageada. Tampouco um licor afeito a cálice pequeno. Saiba-se que aqui se usam copos bojudos servidos duma lírica feita para inebriar, dessas que se bebe ao fim de um bruto dia de trabalho. Cansaço e sonho se encontram e a poesia faz casa nas bocas abertas dos homens.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"Há tempo, muito tempo que eu estou longe de casa..."

Andamos sumidos, mas por um motivo feliz. A Repartição da Flor tem se apresentado num circuito de fábricas, depósitos, escritórios e outros locais de trabalho. Agora uma supresa: entre as viagens alguns versos caíram nas belas cordas de nosso violonista Eric Dalles. Em breve novidades.
A foto abaixo é de ontem, na cidade de Três Rios, RJ.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O operário em construção - Vinicius de Moraes

Esse é um dos poemas mais bonitos do mestre Vinicius de Moraes e que todo trabalhador deveria ler. Digo isto por um motivo muito simples: a poesia, assim como a vida, é grandiosa na medida em que é verdadeira. E esse é um poema, acima de tudo, verdadeiro.

Para quem está dando seus primeiros passos na leitura de poesia, talvez pareça ser um poema um pouquinho longo, mas é certo que vale muito cada verso. A epígrafe fica por conta de uma citação bíblica do livro de São Lucas que narra a tentação de Cristo no deserto.

Que o velho Vininha aceite nossa homenagem. E que nós possamos ajudar um pouquinho na construção.

Para ler, clique aqui.

domingo, 12 de setembro de 2010

Praia do Sono

Sono los sueños
ao fim da tarde;

essa praia é nua sem dunas
mas este céu de ancas laranja
num instante dorme, dormiu.

Sono los sueños
ao fim da noite;

as velas, os vinhos e os contos
prosam enrolados na areia
ao pé coxo da amendoeira.

Sono los sueños
ao fim da viagem;

com a linha se pesca o dia
aninhado entre a mochila
as três marias e um frutífero

sono lo sueño

domingo, 5 de setembro de 2010

Em alguma parte alguma


Outro dia li uma entrevista com Ferreira Gullar. Descobri que aos 23 anos, após escrever A Luta Corporal, ele achou que nunca mais faria poemas. Creio que muitos poetas passem por isso na juventude, principalmente após a sua própria Estação no Inferno. Mas não foi o que se deu, e nesta semana pude ir ao lançamento do novo livro Em alguma parte alguma, quando o autor completa 80 anos. Dividido em 4, você acaba se perdendo entre a rua Duvivier, o cemitério São João Batista, uma remota quitanda no Maranhão e assim vai. Aliás, Ferreira Gullar nunca despista os lugares, as datas, os nomes; parece que se recusa a dizer que algo ali é fictício, pois são invenções. Na entrevista ele também falou sobre isso "a vida é inventada", como costuma repetir. Não faz muito tempo que passei a valorizar essas frases repetidas (de qualquer um com mais ou menos a sua idade), em geral elas falam de um aprendizado que está muito longe das palavras, mas do qual, mesmo assim, qualquer palavra acaba sendo uma pista. "A vida é inventada", só me faz pensar numa descoberta repentina de alguém que sempre tentou imaginar saídas para os homens e para os seus próprios versos, talvez alguém que tenha convivido com a mentira também, e o acaso. Certa vez, creio que num dia de Junho, eu e Flamboyant passamos a madrugada bebendo cabernets bastante baratos, falando banalidades, principalmente sobre bebidas e aspirações. Quando estava perto de amanhecer ele voltou para a sua casa. Na manhã seguinte fui ler o jornal e descobri que haviam dado o golpe em Honduras, cheguei assustado na faculdade e ao revê-lo eu disse "Você ficou sabendo? Em Honduras...", ele estava meio atordoado mas respondeu "É, estou sim, e tudo isso enquanto bebíamos vinho". Bem, talvez algo semelhante tenha ocorrido a Ferreira Gullar quando saiu da rua senador Eusébio, com aquele punhado de Jasmins, e chegou à rua Duvivier; quem sabe lá não passou por uma banca de jornais e relembrou os mísseis que caíam sobre Bagdá ao mesmo tempo que as folhas do jasmineiro sobre a calçada. Essa é a impressão que tenho dos poemas de Ferreira Gullar, que nascem assim: quando atravessa um bairro ou a porta do banheiro. O seu estilo também flui (calmo, veloz), como aqueles pensamentos que deslizam e logo se despedem enquanto caminhamos na cidade. É como se estivéssemos Um pouco acima do chão, para citar o nome de seu primeiro livro, que num segundo nos faz admirar a paisagem para no outro cairmos do quinto andar de uma esperança. Não tem mais como passear nessas ruas escritas sem lembrar dele, assim como é impossível ler nas revistas, na internet, os nomes científicos de galáxias longínquas sem pensar também no seu observatório particular, que deve ser uma janela tão anônima como qualquer outra. Sobre a Estação no Inferno, aos 23 anos o poeta mal imaginava que ela deveria se dar duas décadas depois, no exílio. Todos nós já a conhecemos, principalmente pelo Poema Sujo, e por causa dela é que dói neste livro o penúltimo "Volta a Santiago do Chile", onde a passagem do tempo fica tão asfixiante quanto um gás de cozinha imperceptível. A vida é inventada, e os homens não param de inventar. Hoje novos exilados se espalham saindo de Honduras, em São Luís corre uma rua com o seu nome e, além disso, qualquer pessoa que naquela época tenha guardado um cabernet barato como o meu, hoje terá em sua adega um precioso 40 anos.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Cinco trovas de sete vidas

Sete vidas tem o gato.
A gente tem uma só.
Mais que sede e mais que fome,
mau amor nos leva ao pó.

Sete vidas tem o gato.
Eu quisera ao menos duas:
uma pra ser teu escravo...
outra pra ser rei das ruas!

Sete vidas tem o gato:
graduou-se em reviver.
A gente, porém, coitada,
já tem mestrado em sofrer!

Sete vidas tem o gato:
quase um banqueiro de vidas!
Mas nem mesmo em todas cabem
tantas voltas, idas, vindas...

Sete vidas tem o gato.
A gente tem uma só.
Sete saltos: rasos, altos?
Nossa vida uma é maior!

domingo, 22 de agosto de 2010

3 anos

A Repartição da Flor completa 3 anos. Ainda ontem estávamos sentados - numa ladeira de santa teresa - sem saber no que ia dar. Nossa primeira apresentação, quando éramos seis, consistia num expediente de trabalho completo e que nos mandava rasgar muitos papéis. Depois incorporamos o hábito, continuamos rasgando, até que restaram três membros e alguns rascunhos da estréia. O terno escuro e a camisa clara por baixo, a pequena flor de guardanapo, noites e luas de um vago tempo passado. Tudo isso faz lembrar um filme em preto e branco, que pode até mesmo ser mudo, já que poemas são mais escritos que falados. Oh, não me perguntem o diretor: Orson Welles, Fellini, Bergman? Não saberia dizer, talvez não chegue a cinema, mas apenas uma fotografia meio desgastada pelo tempo. No princípio acreditamos, ingenuamente, que essa indumentária acompanhava nosso papel de funcionários, e só depois descobrimos que era um luto. Já Fernando Pessoa não chegou tarde assim, ele sempre esteve ali, no amontoado de poemas, e se diferenciava de nós pela sua cartola. Era guardador de livros ou tradutor de cartas comerciais - de qualquer forma produzia papéis que poderíamos ter rasgado. Ele desejou o mundo, por isso fez a melhor poesia inspirada de nossa língua no século XX, por isso o vício em álcool e as viagens de Álvaro de Campos. Aliás, nunca poderia ter saído de sua escrivaninha. Quanto à gente, aprendemos um pouco sobre essas coisas em petrópolis. O que se parece mais com acordar numa garrafa de black label? Só um verso como este "meu coração é um balde despejado". Me lembro de um de nós acordar e ficar lendo todos os ingredientes daquele uísque, e depois de tecermos considerações eu abrir a janela. Sobre o lago do quintandinha a névoa fluía feito a marca-d'água, o céu estava perfeitamente branco, e a folhagem verde-escura parecia esquecer que precisava se ligar ao chão. É claro que poderia estar na escócia, pensei. Álvaro de Campos se formou em glasgow, Johnnie Walker é meu xará, estamos abaixo dos 10ºC. No fim, tudo terminou com uma quebra em nossas contas bancárias, o que não é mal, se pensarmos o que Lady Macbeth fez com toda aquela gente nesse país. Ah, creio que foi a partir daí que abandonamos as horas de trabalho: se é para representar, melhor que seja do final do expediente pra lá. Agora logo no início nós colocamos a garrafa na mesa, temos os poemas, o violão, e nunca mais foi preciso rasgar papel nenhum.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Dante Milano


No Rio de Janeiro dos anos 1920, avenida Almirante Barroso nº 18, funcionava um restaurante chamado Reis; casa de motoristas e carroceiros, recebia diariamente a visita de alguns amigos, entre eles Manuel Bandeira, Jayme Ovalle e Dante Milano. O prato, "bem baratinho", era bife à moda e entrava de tudo, com muito pão e arroz. Mais tarde passou a receber jornalistas, escritores, boêmios. Dantinho, como Bandeira o chamava, já fazia seus estudos de latim, rigorosamente, sem o qual sua poesia não seria a mesma. Mas também frequentava o mangue, a Lapa e os carnavais do Palace Hotel; viveu todas aquelas bem-aventuranças que anos depois fruiriam positivamente na história cultural do nosso país: a idade de ouro do samba, o Rio de Janeiro dos cinemas e cabarés, os tomates do modernismo, e o que considero triunfo particular daquela geração: o fim dos cafés parnasianos para o início das rodas de uísque. (Daí entrariam Vinicius e a casa de Aníbal Machado). Apesar disso, Dante Milano não se ateve aos acontecimentos, "c'est la mer qui m’intéresse", e escrevendo apenas o mesmo livro em toda vida, não mencionou nenhum deles. Essa poesia, em suas leis interiores, parece perfeita, límpida, meditada; não sendo à toa as influências dos mestres renascentistas, e nisso inclui-se as formas de Piero della Francesca, por exemplo. "Em literatura tudo que traz escrito na frente: beleza – é beleza falsa", foi o que disse Leopardi e me parece a maior lição que dele tirou Dante Milano. Mas, sem dúvida, em seus poemas, a noite também cai, apesar da harmonia de suas vogais e da clareza do seu estilo, um lento desespero arrefece a luminosidade de seus versos. Nota-se bem essa noite ao lado, intuída nos olhos pretos tapados por Portinari. Se João Cabral escrevia ao palo seco dos sevilhanos, o verso desse carioca é seco não de alguma lira, mas seco do italiano áspero e vulgar dos florentinos do medievo. Minha edição das suas obras completas eu achei num sebo da Praça XV, "bem baratinha", e frequentemente a tenho revisto em muitos aqui pelo Rio de Janeiro. Andando pelo Centro, agora nas férias, passei pela Almirante Barroso e me veio pensar nessa toada de amigos; hoje essa avenida é irreconhecível se compararmos ao que foi no tempo do Reis, quando ainda existia o morro de Santo Antônio, retirado na década de 50. O único prédio que subsiste é o antigo liceu literário, na esquina com Senador Dantas. Alguma nostalgia prende minhas pupilas sempre que passo ali com meu livro na mochila. Fico me perguntando como não se sentia Dantinho entre tanta folia e perdição clássica. Que silencioso céu ele não buscava enquanto punha e ouvia modinhas no violão de Jayme Ovalle, enquanto disputava com Sérgio Buarque velhos jogos eruditos na mesa dos botequins. Escreveu, por final, um único, variado e mesmo livro. “Poesias”. Perscrutando o esboço arquitetônico de suas estrofes e a lentidão tortuosa de suas pinceladas, de imagens plásticas, recuo ao seu solipsismo erudito, sua fama de artesão incansável, para ver tudo se desmentir num pequeno trecho, escrito por ele, sobre o amigo do peito – "Quem não acredita em inspiração, não conheceu Jayme Ovalle". Foi aí que se entregou, e nada poderá negar que a matéria de sua alta poesia talvez tenha saído de porres caducos no Palace Hotel. De aventuras insidiosas no mangue. Passeios melancólicos sob os oitis do Centro da cidade. Está claro, a fé do nosso poeta também recaía sobre a inspiração. "Correi, correi, ó versos sem palavras...".

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Aniversário de Flamboyant

Hoje dia 22 de julho de 2010 quem faz aniversário é o João, Teófilo, Flamboyant. Continuando os motivos do mar faço uma homenagem castellana ao amigo, neto de mergulhador e de Pernambuco, cria das ruas praianas de Macaé, além de ilustre citadino da capital São Sebastião do Rio de Janeiro. Traduzi, para tanto, um poema de Federico García Lorca del Libro de poemas.

LA BALADA DEL AGUA DEL MAR                              A BALADA DA ÁGUA DO MAR

El mar                                                                              O mar
sonríe a lo lejos.                                                               Sorrindo ao léu.
Dientes de espuma,                                                          Dentes de espuma, 
labios de cielo.                                                                  lábios de céu.
–¿Qué vendes, oh joven turbia                                        – O que vendes, oh jovem turva                    
con los senos al aire?                                                       com teus seios aos ares?

–Vendo, señor, el agua                                                    – Vendo, senhor, a água
de los mares.                                                                    dos mares.

–¿Qué llevas, oh negro joven,                                         – Que levas, oh negro jovem,
mezclado con tu sangre?                                                 mesclado ao teu sangue?

–Llevo, señor, el agua                                                     – Levo, senhor, a água
de los mares.                                                                    dos mares.

–Esas lágrimas salobres                                                  – Essas lágrimas salobres,
¿de dónde vienen, madre?                                               de onde vêm, mãe?

–Lloro, señor, el agua                                                      – Choro, senhor, a água
de los mares.                                                                    dos mares.

–Corazón, y esta amargura                                             – Coração, e esta amargura
seria, ¿de dónde nace?                                                    séria, de onde nasce?

–¡Amarga mucho el agua                                                – Amarga muito a água
de los mares!                                                                    dos mares!

El mar                                                                              O mar
sonríe a lo lejos.                                                               Sorrindo ao léu.
Dientes de espuma,                                                          Dentes de espuma,
labios de cielo.                                                                 lábios de céu.


Federico García Lorca, 1919
(tradução de José Agapanto)

terça-feira, 13 de julho de 2010

Introdução à maior aventura de todos os tempos

       No fundo, não importa se estamos à procura ou não – a aventura sempre bate à porta. Seja o som cada vez menos distante das bombas do inimigo que avança ou o folhear de um álbum de família antigo que nos traz a dimensão do personagem épico que, insuspeitadamente, todos somos. Seja a história bêbada de um velho que ao balcão revela o caminho para uma terra fantástica ou a visita do amigo que propõe um passeio náutico no feriado. Seja uma carta de amor que entrega aos nossos cuidados todo o poder e a fragilidade do confidente desarmado a que bem queremos ou o desafio do homem atrás do espelho. Seja um sonho, um passarinho, um livro. Um bruxuleio reluzente no escuro. Um baú. Uma idéia. A aventura sempre chega ao nosso espírito e nos convida, nesse idioma próprio ao coração, à mais incrível viagem de nossas vidas.
       Se recusarmos o convite imprevisto – a opção menos exigente de todas – seremos fantasmas para sempre. Mas se aceitarmos, ah, se aceitarmos, teremos a chance de conquistar o sentimento que só a algumas aves e seres marinhos é dado e aos cavalos selvagens e aos animais que migram e, não tendo uma terra sua, têm por lar o próprio mundo.
       Essa inigualável sensação de desimpedimento, de partir sem olhar para trás, de mergulhar de cabeça na água fria, é a coragem e o desprendimento sem os quais nossa liberdade não passa da vencida liberdade de cultuar intenções. E isso nunca bastou para saciar o que há de melhor em nós.
       Precisamos de história, de histórias e da História. Se acaso existe uma alma que congregue todos os homens e mulheres de todos os tempos, a alma da humanidade, ela só pode ser a História. Mas, ao mesmo tempo, as histórias, veias e artérias da grande humana, são também o alimento de que cada um de nós se nutre e a argamassa com que construímos nossos destinos pessoais. Sem história, nem mesmo o caráter pode, de fato, existir.
       E, finalmente, a história é a única chance do amor (o critério de justiça da felicidade). Dela nasce, nela floresce e com ela se confunde. E aí reside um dos custos inexoráveis das grandes jornadas: quando o amor revelado não encontra caminho adiante, deixa na memória a sua história e não há como separá-la de todas as lembranças vividas porque nós e todo nosso aprendizado também somos feitos dessa mesma e inevitável história. Assim, carregamos o amor que tivemos, de um jeito ou de outro, pela vida inteira e, até o fim dos nossos dias, de alguma forma, sentimos saudades. No plural. Saudades.
       Toda história que valha a pena viver é também uma história de amor e toda história de amor é a história maravilhosa de uma viagem e, por isso e por não sermos deuses, nos deixa saudades históricas.
       Essa é a história que me coube contar. A história de uma jornada imprevista. A história da descoberta da vida. A história de um grande amor. Uma aventura que bateu à minha porta e que, quando abri, irresistivelmente, me levou com ela.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Vinicius de Moraes

Hoje, trinta anos depois, Vinicius foi lembrado por jornais, pequenos eventos, chorinhos quem sabe. Morreu há trinta anos, com saudades da vida, e foi o nosso poeta carioca. Foi um poeta "em paz com a sua cidade" como disse Otto Lara, por isso era preciso o violão. Ontem, passando na orla, vi de longe o seu antigo mar. Fazia um vento frio, chovia. Depois, pensei que se ensinou algo, não foi o amor, porque ele apenas, humildemente, fez o que podia: cantou-o. E amor, não se ensina. Vinicius ensinou aquele mar. Ele, que começou a vida ali, numa casa na Ilha do Governador, e que sobre o Atlântico escreveu Soneto de Fidelidade, hoje é um guarda-sol em que deitamos à sombra ou uma garrafa de champanhe que se abre nas bodas ou um barco.
É que mal sabemos, mas quando na areia, pasmos, naufragamos: – Vinicius! (alguém diria) está ali, bem perto de nós, e o balanço das ondas, que começou antes e antes.
Um sujeito qualquer poderia repetir: – Mas e o amor? Bem, o amor é tudo, mas ao que completou Tom Jobim "O resto é mar..."

domingo, 20 de junho de 2010

Charles Baudelaire

Escreve Baudelaire a Ancelle, em carta: "Você seria muito criança para esquecer que a frança tem horror à poesia, à verdadeira poesia?" E pouco adiante: "Exceto Chateaubriand, Balzac, Stendhal, Mérimée, de Vigny, Flaubert, Banville, Gautier, Leconte de Lisle, toda gentalha moderna me causa horror. Vossos liberais, horror. O vício, horror. O estilo atual, horror. O progresso, horror. Não me fale mais dos dizedores de nadas."

Curitiba

Está certo que Curitiba seria a "base social do fascismo" segundo o João Pedro; com aquela vida urbana meio artificial, o largo da Ordem, skin heads. Mas gostei enfim, as ruas na madrugada diziam algo de uma roleta ou de um subúrbio violento da Polônia. E uma alegria fiel, era o que tínhamos, sem dinheiro, desejando o inverno e tudo o que havia por debaixo de suas peles de lã, padecemos de acertar muito a roleta e depois sair de mãos abanando. Na viagem de volta cantamos o aniversário do João no ônibus mesmo. Chegando ao Rio, estava tudo certo, iríamos à praia novamente. (diário, julho de 2007 - foto: noite de Curitiba)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago, 16-11-1922 / 18-06-2010

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Boudin

sábado, 8 de maio de 2010

a tarde se esvai
com ela o céu adensa em movimento suave
tudo no ar parece seguir num tempo que não o nosso
as aves - como nós
seres a vagar no sem fim do espaço
leves
(- oh deus, tão leves)
levando para a terra, com mãos de fogo,
a substância sólida de nossos ninhos...
aquecer o amor. - é possível sentir
as aves movendo suas longas asas
num tempo espesso.

a tarde a condensar o céu
e o meu tempo já não é tempo
é vôo

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Aforismos

– A boa conversa está mais próxima da arte que as literaturas de segunda ordem.

– João Cabral fazia versos de ferro, seus seguidores fazem de ferrugem.

– Quando ela vier (a morte), nunca terá vindo.

– Perigo é quando sobe a arquitetura à cabeça dos poetas; constroem casas perfeitas, mas onde nenhum homem viverá.

– Minas é o mais metafísico de nossos estados.

– Então é esta a natureza do poeta, desejar o mundo?

Especial de amigos, sobre uísque:

– A civilização começou com a destilação. (William Faulkner)

– O tempo andou mexendo com a gente, sim. ( J. M Poranga, sobre os 18 anos de uma garrafa)

– Cumpre seu papel pra humanidade. (Teófilo de Flamboyant)

– A poesia é algo tão concentrado quanto uísque, com um alto teor alcoólico. Pode-se escrever um romance de 400 páginas. Um livro de poesia de 400 páginas é inviável. (João Cabral de Melo Neto)

– O importante não é você gostar do uísque, mas o uísque gostar de você. (Jaime Ovalle)

– O uísque e a liberdade andam juntos. (Robert Burns)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Soneto dos amantes desvairados.

Nós somos amantes porque amamos.
O termos ou não nosso amor ao lado
não torna improváveis os nossos planos:
- Amamos por nós e por nosso amado!

E nossa amação, sem igual no mundo,
é tal, que em estado febril constante,
buscamos no amor os porquês profundos
e ao fim de um amor, mais amor que antes.

Só vemos no amor, para o amor, a cura,
mas nunca vulgares, nem vãos, nem vis.
Nós damos a vida ao amar assim!

E, assim, nós "morremos", igual se diz,
por todas as forças que o amor conjura,
em cada romance que chega ao fim.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Manuel Bandeira (Portinari)


J. M Poranga e José Agapanto, num dia de cerimônia

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sobre teus pés de Portinari

Eu gosto dos teus pés,
que levam teu sorriso às pessoas.
Lembram o trabalho daqueles rizicultores de Yunnan, na China,
que metem, na lama, as mudinhas do que será
sangue nos ossos e nuvem nos céus das bocas.

Eu gosto dos teus pés:
mantêm distância apropriada
entre o futuro do mundo
(que incubas num ninho logo acima do teu nariz)
e o passo concreto que dás.
O sonho ganha tempo para percorrer teu corpo
até alcançar a forma necessária
de um próximo passo.

Acho bonitos os teus pés.
São fortes e bem-humorados.
Queriam ser pés de soldado e palhaço.
Depois, viram que não era bem isso.
E, então, descobriram que poderiam
(se fosse preciso, até a velhice)
ser pés de criança descalça.

quarta-feira, 17 de março de 2010

carnaval para j. p

Orava a nuvem a consolação
no mar, martirizando no poeta
uma canção. Raiava quarta-feira
já, lembrou Recife, a serra e um verso
de Drummond. Pela noite quis de amor
matar e pela tarde quis de amor
perdão. Eram os barcos que partiam
aqui e lá, mãos de mulher, dores de sim
de não; fevereiro, sopra seus barcos
e solta, como a flauta o sol no ar;
solas de sapato, boi, baco, brilha
um balão, oh padre do paraná.
Nuvens do céu, sem deus, desçam ao chão,
o tempo é algo quente como um lar.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A emocionante formatura do amigo poeta Jimmy Charles Mendes, certo verão, na Faculdade de Letras da UFRJ.


Então disse o sol:
“Bem, cá estamos, meu velho.
Tu e eu formamos uma dupla.
Voemos, poeta,
à altura das águias.
Cantemos
para espantar as trevas do mundo.
Eu derramo luz
e tu outro tanto fazes
esparzindo teus versos”.

(Maiakóvski)