domingo, 31 de agosto de 2008

Moça do sapatinho de laço

Não é pelo rosto, certo pássaro, racifero,
ocelote d'água. Pelo sorriso que insurge
como a estrela que insurge, não é.

Não é pela madeira desfiada,
cachoeira sobre os ombros,
que vela a espádua se a noite velar a fuga. Não é.

Tampouco seria pela cintura,
antitese de seio e quadril,
teu equador de ampulheta.

Menos ainda pelos seios, seios, seios, seios...
quadris, quadris, quadris, quadris,
que são o Tempo.

Nem pelas pernas sem roupa,
melhores amigas da praia,
pintadas à cor dos olhares.

(Giras o mundo quando te locomoves.
Despreocupada, confundindo
o dia, danças, da colheita.)

Não. Nada disso me encanta.
Nem por isso estou por ti.
Mas por teu sapatinho de laço.

É pelo cremoso sapatinho, querida,
de laço, que, teu, me encantas.
E eu te sigo. Praças. Largos. Bares. Baile.

domingo, 17 de agosto de 2008

É doce morrer no Mar

para Dorival Caymmi, hoje,
no seu último dia

Ao longe no mar e
contando as ondas
que Rosa te fez cantar.
Me lembrou a Bahia
esticada entre coqueiros
sobre redes e canoas.
Bahia das ondas de prata.

Um menino sentado
ergue os papagaios
e ouvindo canções
que Rosa te fez cantar:
"Coqueiro de Itapuã,
Adeus Belém do Pará".

▒▒▒Assim hoje morreu nas ondas
▒▒▒um assovio do mar.
16 de Agosto de 2008

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Apresentação

A Repartição da Flor é um grupo de jovens poetas nascido em agosto de 2007, que após percorrer bares de Santa Teresa, palcos do Rio de Janeiro, cadernos de literatura, hoje é uma casa aberta aos amigos. Com uma humilde biblioteca de livros e outra de garrafas, funciona para lembrar alguns que cantaram e se foram, alguns que apenas se foram e outros que estão chegando; nosso espetáculo é um diário franco, que encena a partir de obras brasileiras, poemas próprios e pequenos diálogos. Seus três poetas são José Agapanto, J.M Poranga e Teófilo de Flamboyant, e seu músico de mão cheia é Eric Dalles, ainda sem batismo.

"Do charco bege do ofício, condensa-se um cálido lírio. Dos bolorados arquivos, desborboleta um hibisco. Da cinza sequês da sala, vermelha, avulta-se a dália.”

obs: Nosso blog é aberto para todos, aqui postamos textos de autoria própria, e daqui mandamos um abraço cordial para cada um de nossos leitores. Muito obrigado.

A Repartição da Flor

Onde houver uma noite e uma estrela sem pressa
a pintar nos milênios do mar sua cor...
Onde houver festa e riso e cerveja na mesa
e faltar o estopim para um beijo de amor...
Onde houver um jardim prenhe a ponto de parto
e o florista de fogo provar seu valor...

Onde houver um olhar navegando a lembrança
por cirandas e rodas de um tempo sem dor...
Onde houver papelada e patrão e silêncio,
mas se ouvir pelas frestas canções sem pudor...
Onde houver tão-somente uma lágrima viva
remolhando a semente de um trabalhador...

Há de haver poesia! E José já dizia:
- Inicia no verso o Expediente da Flor!