segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Poema de César Vallejo



BORRAS

Esta tarde chove, como nunca; e eu
Estou sem gana de viver, coração.

Esta tarde é doce. Por que não vai ser?
Veste graça e pena; veste-se de mulher.

Esta tarde em Lima chove. E eu recordo
as cavernas cruéis de minha ingratidão;
meu bloco de gelo sobre a sua amapola,
mais forte que o seu "Não sejas assim!"

Minhas violentas flores negras; e a bruta
e enorme pedrada; e o trecho glacial.
E afirmará o silêncio de sua dignidade
com óleos queimantes o ponto final.

Por isso esta tarde, como nunca, vou
com este mocho, com este coração.

E outras passam; e vendo-me tão triste,
tomam um pouquinho de ti
na abrupta ruga dessa minha mágoa.

Esta tarde chove, chove muito. E eu
Estou sem gana de viver, coração.

(Tradução de José Agapanto. Na foto: César Vallejo)