Pernambuco, o que digo que já não disseste
no ribombo da alfaia, em voz republicana?
Teu céu? Talhado à faca de incontáveis preces
por teus filhos de barro, pranto, honra e cana?
Tua noite? Seguida pelo Caçador
(uns dirão, pra matá-la, e outros, por amor)?
Tua manhã? Degredo de estrela e fanal?
O nó cego no peito ao se ouvir o "imortal"?
Inevitável, já, deixar que tu me invadas
como o sabor e o beijo e as novas palavras...
Desnecessário, já, dizer que tu venceste.
Não me cabe medir na arte as tuas plagas.
Impossível meter num verso as tuas águas
aquentadas, saladas: entes do ser Leste.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
domingo, 20 de dezembro de 2009
"Porque pulsa do amor a dura prova..."
Para Elis
Porque pulsa do amor a dura prova
vai pungir no poema a pena firme.
pra seguir com o rio que renova
e de novo, entre as águas, o afirme!
Se livres somos nós e eu quero tudo
quanto pode um ser errante... mas
se escrevo um verso esparso e mudo
é só para entregar-te pleno. Mas
se rompe em chuva fria o desconcerto
de Camões e de toda humanidade,
sem saudades da vida venho certo
da letra desenhando eternidade
no céu rubro, do Verbo concertado.
Tê-la, então, no presente, do meu lado.
Porque pulsa do amor a dura prova
vai pungir no poema a pena firme.
pra seguir com o rio que renova
e de novo, entre as águas, o afirme!
Se livres somos nós e eu quero tudo
quanto pode um ser errante... mas
se escrevo um verso esparso e mudo
é só para entregar-te pleno. Mas
se rompe em chuva fria o desconcerto
de Camões e de toda humanidade,
sem saudades da vida venho certo
da letra desenhando eternidade
no céu rubro, do Verbo concertado.
Tê-la, então, no presente, do meu lado.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Marc Chagall
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
sábado, 24 de outubro de 2009
Jayme Ovalle
Ovalle, irmãozinho; a noite fechou como um piano cansado. Da janela, estive olhando: a saleta de orquestra, allegro das luzes no bonde e o poste. Até o gato de rua sabe fazer esse caminho de ferro, que o bonde faz (esquece) e vai seguindo, seguindo. Você também não parou, irmãozinho – foi. Depois, o gole deixou num gordo a impressão de Haydn, ele só passava; “meninos” – a senhorinha – “este é aquele Minuetto, vale nota”. Para o músico da saleta Haydn era um enigma sem mistério (para você foi mistério somente). Da janela, estive olhando: o amarelo do poste vira uma estrela de madrugada; foi você? sei que os poetas carpiram, o samba quebrado rolou e até a Marrecas foi ninho (para duas mocinhas). Viver é coisa grande.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Licores
De vez em quando, a estante dos licores
afasta o bom rabino dos louvores
e arrisca a gola branca a novas cores.
Uns cálices depois, certos horrores
vernáculos das mentes de senhores
gentis demais às damas nos favores
escapam. São suspiros, são calores
fingidos, sob a rolha, de sabores
de frutas e ervas finas. Pois imunes
aos anos, apurando seus queimores,
as caldas melindrosas dançam tango
nas vulvas vidraçadas com os numes,
que ganham vida e tomam corpo quando
o bom rabino as vem amar. Licores.
afasta o bom rabino dos louvores
e arrisca a gola branca a novas cores.
Uns cálices depois, certos horrores
vernáculos das mentes de senhores
gentis demais às damas nos favores
escapam. São suspiros, são calores
fingidos, sob a rolha, de sabores
de frutas e ervas finas. Pois imunes
aos anos, apurando seus queimores,
as caldas melindrosas dançam tango
nas vulvas vidraçadas com os numes,
que ganham vida e tomam corpo quando
o bom rabino as vem amar. Licores.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Soneto para um novo amor
Distante dos meus deuses naturais,
temendo ter traído minha pátria,
por blocos de antiquados carnavais
errei, mas quem assim já não errara?
Sentei-me à beira-mar e tive um frio
que foi como se eu não vestisse nada.
Na orla, à noite, mil luzes do Rio
dançavam com as ondas e eu chorava.
Mas quem já não morrera assim, amigos?
E quem já não jurara à lua clara:
- Jamais um novo amor será cantado!
Só sei que algum calor aos arrepios
pôs fim e um querubim da Guanabara
secou meus olhos. Eu jurava errado.
temendo ter traído minha pátria,
por blocos de antiquados carnavais
errei, mas quem assim já não errara?
Sentei-me à beira-mar e tive um frio
que foi como se eu não vestisse nada.
Na orla, à noite, mil luzes do Rio
dançavam com as ondas e eu chorava.
Mas quem já não morrera assim, amigos?
E quem já não jurara à lua clara:
- Jamais um novo amor será cantado!
Só sei que algum calor aos arrepios
pôs fim e um querubim da Guanabara
secou meus olhos. Eu jurava errado.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Amor em dialética
Tudo quanto acresce faz crescer. Transforma,
no brindar dos corpos, e deforma e mata,
a conformidade duma antiga forma,
dando luz a novas, netas da passada.
Essas somas causam sempre um certo dó,
confundindo à força o que é de dentro e o fora:
dores de fornalha, de martelo e mó
que vão duvidar se é benfeitora a soma.
Mas se tudo quanto assoma fere e muda
o horizonte e a ilha de antes de somar,
a fusão das partes logo arvora uma
recriada praia, que esmerada e forte,
será tão plural quanto for singular.
no brindar dos corpos, e deforma e mata,
a conformidade duma antiga forma,
dando luz a novas, netas da passada.
Essas somas causam sempre um certo dó,
confundindo à força o que é de dentro e o fora:
dores de fornalha, de martelo e mó
que vão duvidar se é benfeitora a soma.
Mas se tudo quanto assoma fere e muda
o horizonte e a ilha de antes de somar,
a fusão das partes logo arvora uma
recriada praia, que esmerada e forte,
será tão plural quanto for singular.
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