quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Amor em dialética

Tudo quanto acresce faz crescer. Transforma,
no brindar dos corpos, e deforma e mata,
a conformidade duma antiga forma,
dando luz a novas, netas da passada.

Essas somas causam sempre um certo dó,
confundindo à força o que é de dentro e o fora:
dores de fornalha, de martelo e mó
que vão duvidar se é benfeitora a soma.

Mas se tudo quanto assoma fere e muda
o horizonte e a ilha de antes de somar,
a fusão das partes logo arvora uma
recriada praia, que esmerada e forte,

será tão plural quanto for singular.

Um comentário:

Anônimo disse...

João,

O poema, no que tem de tragável, é muito bonito. Me fez lembrar muito de um soneto meu, já um pouco antigo:

Mais puro vidro da linguagem, forma
que se desvela: mundo em transe, o abrir
de uma coisa é taça nova que entorna
mundo em um mundo que insiste em se ir,

até que encontra olhos de homem e brinda,
com seu fenômeno, o aventureiro.
E o mundo que resistia então finda,
saúda o novo sem um derradeiro

beijo, sem nem um fatídico abraço.
O fenômeno, da pureza, vai
à estética: seu mais humano traço

e na verdade único, junto ao nome
que o carrega e que a uma hora se esvai.
Verdade, as coisas não têm quem as dome.

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Publique o Albatroz.
Abraço