quinta-feira, 18 de março de 2010

Sobre teus pés de Portinari

Eu gosto dos teus pés,
que levam teu sorriso às pessoas.
Lembram o trabalho daqueles rizicultores de Yunnan, na China,
que metem, na lama, as mudinhas do que será
sangue nos ossos e nuvem nos céus das bocas.

Eu gosto dos teus pés:
mantêm distância apropriada
entre o futuro do mundo
(que incubas num ninho logo acima do teu nariz)
e o passo concreto que dás.
O sonho ganha tempo para percorrer teu corpo
até alcançar a forma necessária
de um próximo passo.

Acho bonitos os teus pés.
São fortes e bem-humorados.
Queriam ser pés de soldado e palhaço.
Depois, viram que não era bem isso.
E, então, descobriram que poderiam
(se fosse preciso, até a velhice)
ser pés de criança descalça.

4 comentários:

josé agapanto disse...

Os sonhos caminham mesmo no corpo, com pés de enigma, (nunca se sabe bem como são), mas é fácil ouvir rufar o chão quando caem, e as nossas orelhas se erguem famintas quando eles se levantam.

josé agapanto disse...

"eu planetei um pé-de-sono
brotaram vinte roseiras" C.D.A.

Alice disse...

Que poema lindo! E esse negócio da China, ficou lindo!

josé agapanto disse...

Negócio da China, essa é boa.