segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Para Luciana

à maneira de Neruda
Às margens do guamá
certa madeira encravada
originária
eram árvores derramadas de chuva
e à sombra
era você
se derramou em mim
esparramou nas costas
engoliu dedos, rompeu o cacto e a rocha
em mim
eram meus olhos
que se abriam ao céu maior de suas mãos
corriam miúdos
pela carne
para lembrar seu gesto
formatando sonho num luar
amarelado e negro
de esperança e ardor
eu esperei a angústia daqueles barcos
emudecidos da ilusão da morte
apalpando o rio como a um templo
vagarosos
e a sua espera arroteou
tudo o que em mim era aperto
fazendo pressa onde foi lago
penetrando meus dedos
na espuma aérea, envolta
enevoada de nossa margem
choramos do mesmo rio
a mesma água
abrimos do mesmo beijo
uma ferida e da sombra tão esparsa que nos cobria
partimos como pães a luz de um astro
para o tempo geral de nossos dias.

3 comentários:

lulu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lulu disse...

Zé Agapanto, meu amor... qualquer noite dessas, vou aí te tirar para dançar. ;)

Unknown disse...

mingonsa, cada dia q passa eu me pergnto por que tu n nasceste mulher, linda como tuas irmas e poeta como joao!