terça-feira, 13 de julho de 2010

Introdução à maior aventura de todos os tempos

       No fundo, não importa se estamos à procura ou não – a aventura sempre bate à porta. Seja o som cada vez menos distante das bombas do inimigo que avança ou o folhear de um álbum de família antigo que nos traz a dimensão do personagem épico que, insuspeitadamente, todos somos. Seja a história bêbada de um velho que ao balcão revela o caminho para uma terra fantástica ou a visita do amigo que propõe um passeio náutico no feriado. Seja uma carta de amor que entrega aos nossos cuidados todo o poder e a fragilidade do confidente desarmado a que bem queremos ou o desafio do homem atrás do espelho. Seja um sonho, um passarinho, um livro. Um bruxuleio reluzente no escuro. Um baú. Uma idéia. A aventura sempre chega ao nosso espírito e nos convida, nesse idioma próprio ao coração, à mais incrível viagem de nossas vidas.
       Se recusarmos o convite imprevisto – a opção menos exigente de todas – seremos fantasmas para sempre. Mas se aceitarmos, ah, se aceitarmos, teremos a chance de conquistar o sentimento que só a algumas aves e seres marinhos é dado e aos cavalos selvagens e aos animais que migram e, não tendo uma terra sua, têm por lar o próprio mundo.
       Essa inigualável sensação de desimpedimento, de partir sem olhar para trás, de mergulhar de cabeça na água fria, é a coragem e o desprendimento sem os quais nossa liberdade não passa da vencida liberdade de cultuar intenções. E isso nunca bastou para saciar o que há de melhor em nós.
       Precisamos de história, de histórias e da História. Se acaso existe uma alma que congregue todos os homens e mulheres de todos os tempos, a alma da humanidade, ela só pode ser a História. Mas, ao mesmo tempo, as histórias, veias e artérias da grande humana, são também o alimento de que cada um de nós se nutre e a argamassa com que construímos nossos destinos pessoais. Sem história, nem mesmo o caráter pode, de fato, existir.
       E, finalmente, a história é a única chance do amor (o critério de justiça da felicidade). Dela nasce, nela floresce e com ela se confunde. E aí reside um dos custos inexoráveis das grandes jornadas: quando o amor revelado não encontra caminho adiante, deixa na memória a sua história e não há como separá-la de todas as lembranças vividas porque nós e todo nosso aprendizado também somos feitos dessa mesma e inevitável história. Assim, carregamos o amor que tivemos, de um jeito ou de outro, pela vida inteira e, até o fim dos nossos dias, de alguma forma, sentimos saudades. No plural. Saudades.
       Toda história que valha a pena viver é também uma história de amor e toda história de amor é a história maravilhosa de uma viagem e, por isso e por não sermos deuses, nos deixa saudades históricas.
       Essa é a história que me coube contar. A história de uma jornada imprevista. A história da descoberta da vida. A história de um grande amor. Uma aventura que bateu à minha porta e que, quando abri, irresistivelmente, me levou com ela.

2 comentários:

josé agapanto disse...

"Há sempre um copo de mar / para um homem navegar" Jorge de Lima

Lulu disse...

a aventura de um romance histórico escrito a três mãos: bandeira, drummond e vinicius!